Já faz
um bom tempo que alimento uma curiosidade com relação ao uso do computador e da
Internet pelas crianças. Minha dúvida inicial era se o uso dessas ferramentas
pelas crianças é bom ou mal para seu desenvolvimento pessoal e social, assim
como, a influência disso em sua vida escolar. Descobri que, segundo pesquisas,
o Brasil é o país com mais crianças de 4 a 12 anos conectados à Internet no
mundo todo. Isso é muito precoce. Uma criança de 4 anos não tem noção de
conteúdos e cada vez mais os pais se distanciam da vida dos filhos nessa era
moderna, ou seja, as crianças acabam ficando sem orientação. Ainda mais com
tanta tecnologia, porque não é só na frente de um computador que as coisas
acontecem, hoje em dia há a possibilidade de acesso a Internet de várias formas
como celulares, tablets e outros. A Internet e as redes sociais estão afastando
as pessoas ao invés de uni-las e as crianças já estão incluídas nisso. Os
relacionamentos estão se tornando artificiais, ou seja, está se formando uma
geração de crianças e futuros adultos, claro, individualistas e solitários.
Encontrei um artigo com opiniões de vários especialistas e achei considerável e
válido compartilhá-lo aqui.
Crianças X Computadores: benefícios e males da era tecnológica
Manter as crianças longe do
computador ou ensiná-las desde cedo? Especialistas debatem o dilema entre
educação e proibição
Antigamente
não tinha choro nem vela: a brincadeira fora ou dentro de casa consistia
basicamente de atividades com bolas, bonecos, carrinhos e jogos como
esconde-esconde. Hoje, são poucas as crianças que nunca pediram para mexer no
celular da mãe ou não tentaram descobrir o que havia de tão interessante na
tela do computador do pai. Mas até que ponto permitir o envolvimento com estes
eletrônicos é benéfico aos filhos? Para Valdemar Setzer, professor aposentado
do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e
Estatística da USP (Universidade de São Paulo), não há o que discutir: até que
eles cheguem aos 17 anos, passatempos tecnológicos deveriam estar fora de
questão.
"Tanto o computador como todos os outros meios eletrônicos exigem uma enorme autodisciplina e um enorme autocontrole, coisa que as crianças e jovens não possuem”, afirma o especialista, também autor do livro “Meios Eletrônicos e a Educação: Uma Visão Alternativa” (Editora Escrituras). Segundo Setzer, as crianças ainda estão desenvolvendo a capacidade de discernir o que é verdadeiro ou falso, bom ou mau, e colocá-las diante de uma tela cheia de possibilidades e informações é uma porta aberta para diferentes perigos. Mas nem todos os especialistas são tão radicais. Tadeu Terra, professor e Diretor Editorial de Mídia Digital do COC, escola pioneira no uso de computadores em salas de aula, defende que o papel dos pais é ser guia e mediador na relação com a tecnologia, e não proibidor – até porque, segundo ele, as crianças terão contato com celulares, computadores e com a internet quer os pais permitam, quer não.
Para
Setzer, o tipo de pensamento estimulado pelo computador é excessivamente exato
e restrito para uma criança. “Ele prejudica a capacidade de pensar e imaginar
delas, mostrando que o uso frequente do computador é um dos fatores para a
piora do rendimento escolar, por exemplo”.
Criatividade em falta?
“Qualquer
atividade virtual é irreal e se apresentam figuras e desenhos, não há a
imaginação. Porque usar o computador se há jogos que podem ser jogados com as
mãos?”, questiona Setzer. Ao contrário dele, Tadeu Terra não vê o universo
virtual como tamanha ameaça às crianças. “Os jogos físicos e virtuais podem ser
equivalentes: a questão está na proposta do jogo, e não no meio utilizado”,
diz. Segundo ele, os pais devem pensar primeiro em quais habilidades a criança
está desenvolvendo.
O
pediatra antroposófico Antonio Carlos de Souza Aranha concorda com a questão
levantada por Setzer. “É importante que a criança desenvolva primeiramente a
criatividade e o raciocínio para depois utilizar os meios eletrônicos
livremente, sem se tornar dependente da tecnologia”, acredita. As festas
infantis atuais exemplificam bem o que ele quer dizer: enquanto hoje costuma
haver a necessidade de um ambiente temático, além de um profissional para
animar a festa de aniversário do filho, antigamente só era necessário deixar as
crianças no quintal para que elas inventassem o que fazer e se divertissem.
“Hoje em dia as crianças são cada vez mais consumidoras e menos criativas em
todos os níveis – ação, emoção e pensamento – e isso é um grande perigo”, diz o
pediatra.
No
entanto, se houver uma ênfase da família em desenvolver estes três níveis de
capacidade, colocar a criança em contato com o computador ou até mesmo com a
televisão pode ocorrer sem malefícios. Por outro lado, se houver acomodação dos
pais, a coisa muda de figura: colocar uma criança sem supervisão diante de um
destes meios é arriscado.
Tecnologia 24 horas
Tecnologia 24 horas
Deixar a criança
brincando no computador o tempo inteiro está mesmo fora de cogitação. De acordo
com Terra, os pais devem estabelecer uma disciplina para o uso dos meios
eletrônicos, e não simplesmente eliminar o computador da vida dos filhos. “As
crianças já possuem uma atração muito grande pela tecnologia, a menos que você
nunca a deixe chegar perto de qualquer meio eletrônico”, afirma. Contando que
grande número de adultos anda para lá e para cá com celulares em mãos, este
contato se torna inevitável. “Uma criança de três anos já é capaz de entrar
sozinha na internet e assistir um vídeo no Youtube, então você precisa mostrar
o que aquilo significa”, revela ele.
Embora os meios
eletrônicos estejam espalhados por todos os lados e haja a possibilidade de
serem utilizados de maneira correta por crianças e jovens, Terra ainda aponta
que há riscos a serem evitados. “Como pai e educador, minha função não é a de
tirar o computador das crianças, mas sim de mostrar o que significa. Senão ele
vai fazer escondido”, afirma.
Evitar que um
pré-adolescente crie um perfil numa rede social, por exemplo, é bastante
difícil, mesmo que os pais o proíbam. A questão, portanto, é: quem irá
informá-lo sobre as medidas que devem ser tomadas por questão de segurança,
como por exemplo, não revelar informações pessoais? “Existem vários pais que
acham que os filhos nem sabem mexer no computador, mas um dia descobrem que
eles têm até perfil no Orkut. Incluir a tecnologia como algo que faz parte do
dia a dia e vê-la de forma positiva é necessário”, acredita Terra.
Mas tampouco é preciso
colocar um computador no quarto do seu filho para que ele não se sinta “por
fora” diante dos colegas de escola. O pediatra ressalta que, junto às
atividades de introdução à informática, é essencial que as crianças tenham
outros estímulos: “Os pais devem se preocupar em desenvolvê-las através das
artes, das atividades criativas e também das atividades físicas”. Afinal, levar
somente a facilidade mecânica dos computadores em consideração não colabora
para o desenvolvimento de novas capacidades. É como aprender a fazer contas
direto na calculadora: você perde a aquisição da capacidade mental de calcular.
Faixa etária e autonomia
O professor Valdemar
Setzer é categórico: o uso de computadores sozinho, sem supervisão dos pais,
deve começar somente a partir dos 17 anos – segundo ele, a idade em que o jovem
já está preparado para utilizar a tecnologia de forma saudável. O pediatra
Antonio Carlos de Souza Aranha é menos radical: para ele, a partir dos 14 anos
já é possível que o jovem utilize a informática com autonomia, sem a
possibilidade de se tornar dependente: “Os pais são livres para educarem os
filhos como preferirem, mas a criança que não desenvolver capacidades criativas
poderá usar o computador para fugir do contato com o mundo – assim como algumas
fogem nas drogas”.
Terra discorda. “Existem
atividades educativas que as crianças de quatro anos já podem realizar no computador,
naturalmente acompanhadas dos pais”, revela ele. “Mas é necessário realizar um
trabalho para que ele chegue na adolescência agindo de forma segura diante da
internet, por exemplo”, completa. Segundo ele, a criança entrará em contato, de
uma maneira ou de outra, com a tecnologia, e terá mais interesse de descobrir o
que é o plano digital. “À medida que ela for solicitando isso, os pais devem
ter muita atenção: não é como deixar a criança brincando com uma bola no
quintal. Os riscos que ela corre diante do computador são realmente maiores”,
revela o especialista.
“A civilização não
andaria hoje sem o computador, mas a criança deve passar pelas etapas que a
humanidade toda já passou até agora”, resume Antonio Carlos. Ou seja:
desenvolver primeiro a criatividade e o raciocínio próprios, para depois
dominar uma ferramenta que é parte integrante da vida moderna – e que jamais
funcionaria sem a criatividade e o raciocínio humanos.
Há um velho adágio que diz: "O homem cria para depender daquilo que cria; o homem depende porque não sabe que liberdade é não precisar criar..." |
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